sábado, 28 de julho de 2012

O Direito de Morrer


O Contraponto

“O direito de morrer”


Se existe um assunto que atormenta é a morte. Ela é uma velha e indesejada conhecida nossa. Indesejada? Nem sempre...

Eu li no Facebook um texto que dizia que não escolhíamos nem o tempo de nascer nem a hora de morrer, então, que aproveitássemos o intermezzo. Daí, eu me lembrei daqueles que decidem a hora de morrer. Não estou falando do suicídio já conhecido, não. Estou falando dos que optam pelo suicídio assistido. Vejam bem: não podemos confundi-lo com a eutanásia porque não há ação direta de terceiros, só uma ajudinha, ou mesmo com a ortotanásia quando opta-se por não interferir na evoluçao natural para a morte, só que sem sofrimento.
O suicídio assitido é possível em poucos países, dentre eles, a Suiça. Passei a pensar neste assunto quando um amigo do meu marido optou por realizá-lo com sua doença chegando à fase terminal. A defesa deste ato baseia-se no fato de que o ser humano tem o direito de parar de sofrer por uma doença incurável, pode poupar os seus e pode fazê-lo de maneira segura e sem sofrimento.
Neste caso, o paciente hospeda-se em uma clínica, recebe um coquetel barbitúrico e toma pelas próprias mãos ou, se não puder usá-las, ingere com um canudo.
Como médica, consigo entender o argumento desses pacientes – o do descanso após lutar uma luta inglória. Mas as minhas convicções religiosas não me permitem ficar tão segura dessa opinião. Quem sabe certamente sobre o futuro? Mas do que vale o futuro se não temos o presente? Esse assunto me deixa aflita.
Eis que leio uma notícia de que alguns brasileiros já fazem parte de um grupo que paga para ter direito ao suicídio assistido na Suiça. E pasmem: não é só composto por pessoas doentes mas também por pessoas que querem assegurar que não viverão se a vida já não mais estiver a contento. Teve um entrevistado que inclusive afirmou que estava fazendo o seu seguro de morte. Já começo a temer a banalização de todo o processo.
E, no final das contas, chego à conclusão de que cada um sabe da sua vida mas que eu não concordo com esse aparato todo para a morte. A morte é algo muito definitivo para as pessoas decidirem dessa maneira, numa sala e com uma maleta de dinheiro ao lado. Até onde vai o nosso limite? Poderemos controlar o início, meio e fim? Vai saber...
Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas. (Nietzsche)


Die Blumeninsel - Mainau, Alemanha - 2010

Konstanz, Alemanha - 2010

8 comentários:

  1. Tema difícil a morte! Difícil em todos os sentidos!!! Confesso que toda atitude radical e definitiva me incomoda muito. O fato de ter que tomar uma decisão sobre a minha vida ou sobre a vida de uma pessoa, tendo a certeza de que uma vez tomada, nao haverá volta, mas só ida para algo q desconhecemos por completo ( o nosso lar para seguidores de CX) parece assombroso no meu ponto de vista.
    Nao sei se por covardia, por precaução ou por inexperiência nesse assunto ( Graças a Deus), prefiro militar ao lado dos q defendem a possibilidade do progresso da ciência, da cura do q hoje eh tido como incurável, do direito a vida e nao a morte, do direito a integridade física...

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    1. É, Gisa, vc tb está certa. Nesse assunto, todos os lados da moeda são aceitáveis. O Stephen Hawking, por exemplo, acha que apesar de tudo, sempre haverá na vida algo para se fazer e triunfar...

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    2. É, tema complicado, provelmente o mais complicado que poderíamos discutir enquanto ELA não nos alcança... Mas, por isto mesmo ótimo assunto para refletirmos e discutirmos. Respostas não teremos mas algumas considerações úteis sempre vêm destas discussões. Exemplo: ligar eutanásia ou ortotanásia a dinheiro é no mínimo perigoso. Não dá para devolver em uma semana sevse arrepender da compra... Ligá-la à autonomia do indivíduo deprimido em abreviar seu sofrimento é atuakmente o oposto que fazemos em medicina. E aí ? Pra que lado vamos então ? Possivelmnte existe certo uso com bom senso nos cuidados paliativos de alguns pacientes bem conscientes assim como seus familiares. Enfim, falar da morte é enfrentá-la e aceitá-la. Acho que aceitá-la nos faz viver melhor.

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    3. Fabio, eu ainda prefiro acreditar no bom uso dos cuidados paliativos. Só que esses são para os terminais. Infelizmente, esses cuidados não serão de grande valia naqueles que não são terminais mas que já não podem interagir com o mundo por conta própria.

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  2. "Quanto à morte voluntária: Vejo nela nem pecado nem covardia. Mas acho que a idéia de que este caminho está aberto para nós, é uma boa ajuda para a existência da vida e todas as suas aflições." Hermann Hesse

    Já li uma matéria chamada: Férias para morte na Suíça.
    Uma crítica sobre os preços abusivos para morte assistida e os incômodos em certos bairros habitacionais, onde existe residência de alguma associação de assistência ao suicídio assistido, pois o incômodo dos moradores se dava pelo enorme fluxo (de entra e sai) dos sarcófagos.

    Trabalhei vários anos na área de geriatria na Suíça, como tratadora de idoso em asilos, tive a oportunidade de cuidar com muita dignidade de pacientes que eram sócios de tais associações, como por exemplo, Exit. O nosso trabalho era acompanhar e dar os cuidados necessários, conforme o desejo de tais pacientes.

    "A Exit, é uma associação de assistência ao suicídio no país, é a mais antiga e a que tem mais credibilidade. Existe desde 1982 e nunca se envolveu em grandes polêmicas. Só ajuda suíços ou residentes no país a morrer. Controlada por uma comissão de médicos, é praticamente de graça, ou melhor funciona como um plano de saúde só que ao contrário. O associado deve pagar uma taxa de 20 euros por ano para poder usar o serviço não para prolongar a vida mas sim para abreviar a morte. Hoje a Exit tem mais de 70 mil membros. Diferente da Dignitas, a Exit não ajuda pessoas com depressão severa a morrer. Pelo contrário, para estes pacientes oferece uma série de terapias para que possam continuar a viver. A associação basicamente só assiste no suicídio de pessoas com doenças que provocam (ou provocarão) grande e constante sofrimento impossibilitando uma vida digna.
    - A Suíça é um dos únicos lugares na Europa onde a morte assistida é aceita pela lei. Apenas a Holanda e a Bélgica têm leis que permitem tanto a morte assistida quanto a eutanásia. O que é permitido aqui é o suicídio assistido, onde o paciente é quem dá o último passo, geralmente bebendo uma mistura de suco com pentabarbital de sódio (um sedativo), vendido apenas com receita médica. A eutanásia continua proibida. O que a Dignitas e outras associações fazem é arrumar tudo (inclusive legalmente) para que o cliente beba a overdose sem que sua família (ou qualquer outra pessoa) leve a culpa e enfrente processos legais. As associações, pelo menos na teoria, ajudam para que a morte não seja dolorosa e cheia de sofrimento já que a vida das pessoas que as procuram  já é cheia de dor." Claudia Grechi Steiner

    A vida é feita de escolhas e a morte é um "problema" que já está resolvido, de uma maneira ou de várias outras.
    Quando uma mulher dá a vida ao seu filho ela também dá a morte, é um fato!

    Sou Budista e para o Budismo, já que o primeiro preceito é que não se destrua nenhuma forma de vida, incluindo a sua própria, o sucídio é visto como uma ação negativa.
    Nos ensinamentos budistas, o passado dos indivíduos atua fortemente na influência que experimentam no presente; atos presentes, por sua vez, tornam-se a influência de fundo para experiências futuras (carma). As ações produzidas pela mente, pelo corpo e pela reação, ou repercussão, por sua vez, são a causa das condições (boas e más) de que nos deparamos no mundo de hoje.

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    1. É justamente o trabalho da Dignitas que está tomando um caminho perigoso. Abrindo espaço para deprimidos graves terem acesso ao suicídio assistido, por exemplo. O deprimido grave não vê nenhuma cor na vida, ele vive na escuridão e tudo se torna tão ruim para ele que é impossível ver uma luz de esperança. A agonia é muito grande e ele só quer livrar-se dela. Aí, vem a idéia da morte, do desespero. A depressão pode ter cura ou ser controlada, tendo altos e baixos, já a morte, essa só tem a passagem de ida.

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  3. O título diz tudo. Direito de Morrer. Direito negado, pelo menos na nossa civilização cristã-judaico-ocidental. Sou a favor deste direito, que é absolutamente individual. Médico, luto pela legalização, em dia ainda distante, da própria eutanásia. Filmes importantes já abordaram esse tema (Mar Adentro, As Invasões Bárbaras). Notícia do dia: http://zip.net/blhrzB
    Ajudemos os nossos semelhantes que querem uma vida e uma morte dignas, se forem capazes de se manisfestar ou se um dia já o fizeram. Eu deixo aqui o meu pedido, estando lúcido e capaz: quando eu estiver terminalmente sofrendo ou fazendo minha família sofrer, despachem-me! Amaldiçoo aqueles que impedirem.

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    1. Há de se tomar cuidado não com o direito de morrer mas sim com o objetivo. Se o princípio desse ato for seguido a risca pelas clínicas, ou seja, ajudar a morrer somente quem está em fase terminal de forma segura e indolor, ok. Mas se começar a fugir disso, aceitar deprimidos, deixar morrer dentro de carros em esquinas ou funcionar como um seguro de morte... Pra mim, já é demais!

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